A origem dos nomes de família
Por Rodrigo Trespach, historiador,
genealogista, autor de doze livros.
Embora se diga que o uso de sobrenomes tenha surgido entre os chineses há cerca de 5 mil anos, criação do mitológico imperador Fuxi, à quem se atribui também a invenção da escrita, a verdade é que a prática tal como a conhecemos hoje só foi adotada entre os séculos 16 e 18.
Desde a pré-história até a Antiguidade, o homem ocidental sempre se identificava apenas pelo nome próprio. Mesmo os antigos gregos eram identificados apenas pelo nome próprio. Alguns mais proeminentes usavam como complemento uma informação geográfica ou seu local de nascimento (como Tales de Mileto) ou de filiação (como Aristides, filho de Lisímaco). É o que conhecemos hoje por sobrenomes toponímicos e patronímicos (falaremos deles mais tarde). É possível notar esse costume também entre os hebreus: José de Arimateia, Jesus de Nazaré ou Simão, filho de Jonas. Mas nesse tempo, ainda não havia o conceito de identificar um grupo familiar por várias gerações com o mesmo “sobrenome”.
A prática foi refinada na antiga Roma. Com o passar do tempo e a burocratização do Estado, além do “praenomen” (o nome próprio ou prenome), os romanos passaram a usar uma classificação por “nomes” para identificar cada indivíduo. O nome próprio vinha primeiro, depois vinha o “nomem”, que designava o clã ou tribo de origem, e, por último, o “cognomen”, que designava a família. Os romanos ilustres acrescentavam ainda um quarto nome, o chamado “agnomen”, que era usado para celebrar feitos memoráveis. Assim, Júlio César era “Caius Iulius Caesar” (prenome Caio, do clã Júlia, da família César) e seu filho adotivo e herdeiro, o imperador César Augusto adotou o agnome “Augustus”, o divino.
Quando o Império Romano desintegrou-se no século 5, a utilização de nomes próprios sem identificação dos nomes de família tornou-se costume novamente. As tribos bárbaras germânicas, responsáveis pela queda de Roma, não conheciam o uso de sobrenomes. Em verdade, como os antigos gregos e hebreus eles faziam tão somente o uso de referências geográficas ou de filiação. No século 8, nos textos latinos eram comuns o uso de “sobrenomes” de filiação, tal como na Antiguidade. Assim, expressões como “Paulus filius Petri”, Paulo filho de Pedro, ou “Paulus filius quondam Petri”, Paulo filho de um tal Pedro ou de um cidadão chamado ou conhecido por Pedro.
Esse costume perdurou até os séculos 12 e 13. Nessa época, com o aumento populacional nos centros urbanos, os nomes próprios já não eram mais suficientes para distinguir as pessoas. Com o surgimento das disputas quanto ao direito de sucessão de terras e bens entre os senhores feudais, foi preciso encontrar algo que indicasse vínculo com o proprietário, para que os filhos ou parentes pudessem tomar posse da terra ou dos bens, antes que outra pessoa com o mesmo nome tentasse se passar por herdeiro. Da importância de deixar registrados todos os atos políticos, econômicos e religiosos da nobreza surgiu a necessidade de identificar com exatidão quem era quem.
No entanto, mesmo tendo sido a origem para a maioria dos sobrenomes usados hoje, na Idade Média boa parte deles nada tinha a ver com os nomes de família. Isto é, eles não eram hereditários, não eram passados de pai para filho. A primeira referência ao uso hereditário do sobrenome surgiu em Veneza, no norte italiano, no século 9, chegando depois à França e Península Ibérica no século 11 e à Inglaterra cem anos mais tarde. Mas sem uma norma definida e clara. Foi durante o século 16, já passou a ser possível reconhecer uma linhagem familiar mesmo entre aqueles que não possuíam títulos de nobreza.
A Reforma Protestante (1517) contribuiu muito para a popularização do uso de sobrenomes. A partir do ano de 1524, os pastores começaram a anotar e manter os registros de casamentos e batismos em suas Igrejas como forma de contabilizar seus fiéis. Depois do Concílio de Trento (1545-63), os católicos também passaram a fazer o mesmo. Estes primeiros registros apontavam nada mais do que simples apelidos ou alcunhas, por isso os sobrenomes indicavam geralmente características físicas, lugares de origem, as profissões ou o nome dos pais. Algo semelhante ao que faziam os gregos antigos, os hebreus e também os bárbaros germânicos. Por exemplo: Como diferenciar duas pessoas de nome próprio João que moravam na mesma cidade? Era acrescentado um “alfaiate” ao nome do João que costurava. Ou então, se já existisse um João Alfaiate, era anotado uma característica física; “pequeno” se ele fosse baixo.
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